Antes eu me achava tão forte por não me deixar abalar.
Crise existencial? Angústia? Tristeza? Incerteza? Desejo?
Nada disso me era permitido.
Apenas uma raiva constante, impaciência com tudo,
insatisfação sei-lá-de-quê e uma fome insaciável.
Mal sabia eu que era fome da alma, fome de sentir tudo
aquilo que, paradoxalmente, eu engolia.
Descobri-me mutilada, com um corpo terrivelmente ferido que
eu não reconhecia como meu. De repente, me dei conta de que alguém lavava essas
feridas e, com cada lavada, eu me tornava mais consciente daquele corpo
estranho. Esse alguém era eu mesma, já um pouco menos ferida, mas com todas as
cicatrizes presentes.
Eu, ela(s) e a água me diziam que agora sim eu podia
entender o que era ser forte. Agora sim eu poderia achar o caminho de casa.
Mas esse caminho é meio esquisito. Uma hora faz um sol que
arde com toda a força em minha pele. Outra, uma chuva gelada que me congela por
inteiro.
Às vezes, há uma subida infinita aos céus. Outras vezes
parece que caí de um precipício.
Ao percorrer esse caminho, fico imaginando como é a minha
casa. Quando tenho a imagem finalmente clara em minha mente, ela some e volta
se refazendo por inteiro.
Embora eu não saiba como é essa casa, sei que já posso
chamar de minha. Sei que posso transformá-la sempre que quiser. Sei que talvez
eu nunca chegue nela, pois na vida há tanto para ver.
Talvez eu me aconchegue sempre que me cansar e saia quando
quiser. E a leve para onde for. O que antes era uma prisão, hoje já é mais como
um lar.
Rio de Janeiro, 27 de julho de 2019
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