Eu sou.
Eu sou isso.
Eu sou isso que não sou.
Sou aquilo que tento apreender rabiscando palavras no papel.
Mas quando as rabisco, aprisiono-as. Aprisiono-me. Vou a
todos os lugares e a lugar algum.
Quando as rabisco, já não sou eu.
Mas, quando as rabisco, algo em mim acontece. Elas deslizam,
elas cantam. E eu só vejo essa dança acontecer diante dos meus olhos curiosos.
Queria poder escrever todos os textos que existem em mim.
Mas nunca consigo. A beleza e a peculiaridade deles ficam só para mim.
Soa um tento egoísta, mas mal sabe você a luta que é tentar
capturar minhas palavras.
Fico em silêncio, permaneço imóvel para não afugentá-las. É
como observar um animal selvagem e não poder tocá-lo. E não poder ser vista. É
como ter a certeza de ter pescado um peixe com as mãos para depois perceber que
nunca houve peixe. Apenas o encaixe quase que perfeito da água por tempo
suficiente para enganar a mente.
Então por que escrever?
Talvez por achar que um dia serei.
Talvez por perceber que, embora não saiba, já sou.
Que a dança que observo faz parte de mim. Sou eu também.
Sou todas essas palavras e nenhuma delas.
Sou isso.
Sou isso que sou.
Sou.
Sou?
Sou?
Rio de Janeiro, 03 e 04 de agosto de 2019
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