domingo, agosto 18, 2019

Nome Composto



Esse negócio de nome composto é um tanto engraçado.
Nasci Ana Luiza. Quando me perguntavam meu nome, dizia-o com todas as letras. Hoje sou só Ana. Um ou outro me chama de Luiza. Acho estranho, não parece que sou eu. Mas parece que, nesse momento, esse do “Luiza” sozinho flutuando no ar, percebo essa parte que existe em mim que sempre me esqueço. Eu gosto dela, só esqueço mesmo. Ela é casada com a Ana.
Também sou Aninha. Por mais vezes do que espero. É o apelido carinhoso que diz muito sobre mim. Assim como Nee. Ele aponta aqueles que mais me conheciam na adolescência. E que ficaram.
Consigo contar nos dedos quem me chama pelo meu nome composto. Fico impressionada com o fôlego e a disposição.
Mas, afinal, esse nome é composto de quê?
Rio de Janeiro, 15 de agosto de 2019
(Uma volta para casa no 433)

O Preço de (Não) Ser


“O preço de não ser é caro.”
“O preço de não ser é caro?”
“É.”
“O de ser também é.”
Rio de Janeiro, 15 de agosto de 2019
(Diálogo de uma análise. E depois... O corte.)

Não-Tudo



Eu escrevo.
Escrevo sobre o meu nada.
Escrevo sobre meu tudo. Aquele tudo inalcançável, aquele tudo que escapa.
Aquele tudo que me move e me angustia.
Que tudo é esse?
Fico matutando todo esse tanto que não consigo explicar.
Precisa explicar?
(Não) decido agir. Depois fico olhando para meus atos com uma estranheza desconhecida: “ué, mas de onde veio isso?”. Não sei explicar. Não consigo explicar. Talvez seja por isso que gosto tanto de escre-ver. Para continuar encarando minha estranheza. Para assistir o deslizar da caneta que dança sozinha.
Mas confesso. Fico um tanto preocupada. Vai que esse tudo me inunda e me afoga? Antes eu me afogava no seco das não-palavras. Ou seria das palavras específicas?
Acho que prefiro essas palavras novas.
Talvez ainda sobre um pouco das antigas.
Não sei.
Rio de Janeiro, 13 de agosto de 2019
(Lojas Americanas em Copacabana)

domingo, agosto 04, 2019

A Pedra


A sensação que tenho é que eu cavava ferozmente em busca de uma relíquia. Mas me deparei com uma pedra gigantesca. Fico enfurecida, penso em abandonar a escavação. Penso no trabalho que terei até conseguir escavar essa enorme pedra. Mas e depois? O que fazer com essa maldita pedra? Não consigo movê-la sozinha. Devo quebrá-la? Ou só devo observá-la e ir embora?

Rio de Janeiro, 04 de agosto de 2019

Verbo ser e suas conjugações



Eu sou.
Eu sou isso.
Eu sou isso que não sou.
Sou aquilo que tento apreender rabiscando palavras no papel.
Mas quando as rabisco, aprisiono-as. Aprisiono-me. Vou a todos os lugares e a lugar algum.
Quando as rabisco, já não sou eu.
Mas, quando as rabisco, algo em mim acontece. Elas deslizam, elas cantam. E eu só vejo essa dança acontecer diante dos meus olhos curiosos.
Queria poder escrever todos os textos que existem em mim. Mas nunca consigo. A beleza e a peculiaridade deles ficam só para mim.
Soa um tento egoísta, mas mal sabe você a luta que é tentar capturar minhas palavras.
Fico em silêncio, permaneço imóvel para não afugentá-las. É como observar um animal selvagem e não poder tocá-lo. E não poder ser vista. É como ter a certeza de ter pescado um peixe com as mãos para depois perceber que nunca houve peixe. Apenas o encaixe quase que perfeito da água por tempo suficiente para enganar a mente.
Então por que escrever?
Talvez por achar que um dia serei.
Talvez por perceber que, embora não saiba, já sou.
Que a dança que observo faz parte de mim. Sou eu também.
Sou todas essas palavras e nenhuma delas.
Sou isso.
Sou isso que sou.
Sou.
Sou?

Rio de Janeiro, 03 e 04 de agosto de 2019