Quando era criança, lembro-me de
pisar numa poça num dia de chuva, apenas por curiosidade. Descobri que os pés
se encharcam, sensação não muito agradável ao meu ver.
Quando era adolescente, não
gostava de usar guarda-chuva. Talvez não fosse questão de gosto, mas sim de
estar habituada a não usar, já que no meu colégio não nos era permitido. Mas
lembro de gostar de sentir as gotas caindo em meu rosto, escorrendo pela testa.
Algumas eram contidas pelas sobrancelhas, outras chegavam aos meus olhos. Eu me
sentia viva, como quando minhas mãos ardiam numa manhã fria em que eu teimava
em não me agasalhar.
Os dias de chuva passaram a ser
ansiosamente aguardados quando vivi meu primeiro amor. Dividíamos um
guarda-chuva minúsculo, o que fazia com que ficássemos emboladas pelo caminho
num abraço gostoso. E o chapéu do guarda-chuva era para mim uma proteção do
mundo lá fora tão difícil. Naquele momento, éramos eu, ela, a chuva e o nosso
abraço.
Depois de um tempo, a chuva
passou a me deprimir. Odiava sair de casa, só queria me deitar com minha
tristeza. Mas depois de longos anos sofrendo com dias chuvosos, percebi que
essa água que cai do céu não é tão ruim assim. Mais uma vez, o amor mudou algo
em mim. Como me sentir triste com seu aconchego? Sua vontade em me fazer feliz
principalmente quando chove?
Nem sempre fico feliz,
principalmente com o trânsito e com as gotas que cismam em respingar em minhas
pernas. É, mas acho que hoje eu entendo que o céu também precisa chorar, assim
como eu. Talvez por isso eu odiava a chuva. Ela me lembrava dos choros não
chorados por mim. E ela continuava a chorar os dela.
Rio de Janeiro, 02 de setembro de
2019 (I)
(meu quarto)
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