Não sei quando nem como cheguei.
Mas lá estava eu, diante da casa amarela, de muro baixo e jardim bem cuidado.
Abri o portão branco, com sua tinta levemente desgastada, e atravessei o jardim
pelo caminho de pedras. Parei na varanda, diante da porta. Percebi que os
móveis de metal cheios de curvas ornamentais estavam empoeirados.
Por um segundo, considerei me
sentar numa das cadeiras duras, mas algo me impeliu a bater à porta de vidro
distorcido. Ninguém atendeu. Não foi uma surpresa, sei que bati com muita
leveza. Apenas duas vezes.
Não queria que me atendessem.
Quis virar as costas e ir embora, pensando que ao menos eu havia tentado. Mas
negociar comigo mesma na base da mentira era ultrajante.
Resolvi bater à porta com mais veemência.
Cinco toques dessa vez. Nada.
“Certo”, pensei. “Talvez com um
pouco mais de coragem”. Bati por mais tempo do que pensei que suportaria.
Movimento. Um vulto passou atrás
da porta. Senti meus ombros se encolherem. Prendi minha respiração e fitei meus
pés.
Nada. Um tempo doloroso demais se
passou. Nada. Pensei em chamá-la, mas senti minha garganta se enrouquecendo ao
puxar meu fôlego.
Bati ao vidro, ouvindo-o se chocar
contra a estrutura metálica da porta. Vi o vulto passar novamente, mas dessa
vez mais distante.
Nada. E nada.
Senti a raiva, a tristeza e a
vergonha esquentarem minha face e minhas orelhas. Foi tão difícil vir aqui,
tomar coragem de bater a essa porta tão dura. Mais duro ainda era não ser
atendida. Não pela ausência de gente. Não fui atendida, porque... não! Pela
ausência de vontade! Que crueldade!
Bati no vidro com a força da
minha raiva, da minha mágoa. No começo, era por não ter sido atendida. Depois,
por ter me feito passar por isso. Eu sabia que ela não me atenderia.
...
Sabia mesmo?
Se soubesse, não estaria aqui.
Rio de Janeiro, 02 de setembro de
2019 (III)
(Desafio)